No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade
Contam coisas da cidade
No rancho fundo,
De olhar triste e profundo
Um moreno canta as 'mágoa'
Tendo os olhos rasos d'água
Pobre moreno
Que de tarde no sereno
Espera a lua no terreiro
Tendo o cigarro por companheiro
Sem um aceno
Ele pega na viola
E a lua por esmola
Vem pro quintal deste moreno
No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Nunca mais houve alegria
Nem de noite, nem de dia
Os arvoredos
Já não contam mais segredos
Que a última palmeira
Já morreu na cordilheira
Os passarinhos
Enterraram-se nos ninhos
De tão triste essa tristeza
Enche de trevas a natureza
Tudo por quê?
Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno
Para uma casa de sapê
Se Deus soubesse
Da tristeza lá na serra
Mandaria lá pra cima
Todo o amor que há na Terra
Porque o moreno
Vive louco de saudade
Só por causa do veneno
Das mulheres da cidade
Ele que era
O cantor da primavera
Que até fez do rancho fundo
O céu melhor que tem no mundo
O sol queimando
Se uma flor lá desabrocha
A montanha vai gelando
Lembrando o aroma da cabrocha
No rancho fundo...
Ary Barroso / Lamartine Babo
1970 - Miltinho e a Seresta
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