quinta-feira, 3 de outubro de 2013

No Rancho Fundo - Miltinho (1970)

No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade
Contam coisas da cidade

No rancho fundo,
De olhar triste e profundo
Um moreno canta as 'mágoa'
Tendo os olhos rasos d'água

Pobre moreno
Que de tarde no sereno
Espera a lua no terreiro
Tendo o cigarro por companheiro

Sem um aceno
Ele pega na viola
E a lua por esmola
Vem pro quintal deste moreno

No rancho fundo
Bem pra lá do fim do mundo
Nunca mais houve alegria
Nem de noite, nem de dia

Os arvoredos
Já não contam mais segredos
Que a última palmeira
Já morreu na cordilheira

Os passarinhos
Enterraram-se nos ninhos
De tão triste essa tristeza
Enche de trevas a natureza

Tudo por quê?
Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno
Para uma casa de sapê

Se Deus soubesse
Da tristeza lá na serra
Mandaria lá pra cima
Todo o amor que há na Terra

Porque o moreno
Vive louco de saudade
Só por causa do veneno
Das mulheres da cidade

Ele que era
O  cantor da primavera
Que até fez do rancho fundo
O céu melhor que tem no mundo

O sol queimando
Se uma flor lá desabrocha
A montanha vai gelando
Lembrando o aroma da cabrocha

No rancho fundo...

Ary Barroso / Lamartine Babo



1970 - Miltinho e a Seresta

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